Nas comemorações do dia das mães fui convidada para dar uma palestra ( na verdade uma conversa informal ) para mães de adolescentes infratores , em uma instituição de ação social . Na conversa surgiu a pergunta sobre os motivos que levam jovens de classe média a ingressarem no submundo do crime , cometendo furtos , roubos e tráfico . Talvez seja pelo mesmo motivo que garotas , também de classe média , estejam adentrando no mundo da prostituição, como garotas de programa . Essa triste realidade tem sua origem nos valores que esses jovens assimilaram e na sociedade de consumo .
E nós, como estamos educando nossos filhos? Que valores passamos para eles, principalmente com nosso exemplo? SER e TER , eis a questão ... Ser para ter ou ter para ser?
Ser e Ter é um documentário dirigido por Nicolas Philibert cujo título original é "Étre et avoir" . O documentário acompanha os estudantes de uma escola rural da França até o último ano do ensino fundamental , dos quatro aos onze anos de idade. O período mostra crianças em pleno processo de formação e da identidade pessoal , acompanhando-as em sua transição do universo familiar a um ambiente no qual é levado em conta sua individualidade, respeito às diferenças e afetividade . O filme mostra que educar é antes de tudo mostrar a importância de Ser ... Ter é apenas uma consequência .
Educação na Aldeia traz um texto de autoria do Professor Paulo Martins, Mestre em História e doutorando em Cinema , que trata sobre o filme e a questão existencial que o permeia . Vejam o texto a seguir ...
"A realização pessoal de qualquer indivíduo tem sempre em conta a sua profissão, seja ela qual for. Tudo depende do sentido com que encaramos o trabalho e quais os objectivos que pretendemos alcançar. Esta é a questão principal do filme “Ser e ter”.
A acção decorre nos anos 90, numa pequena escola francesa de província. Um professor concorrera para aquele lugar com um propósito bem determinado: ensinar. Era um desafio. Teria de leccionar na mesma sala para crianças muitos diferentes em idade, conhecimentos e até de raças, pois a mobilidade laboral já chegara à vila. As idades dos alunos variavam dos quatro aos onze anos.
O filme acompanha um ano lectivo. Com o passar do tempo, seguiremos o decorrer das quatro estações. No Verão, os alunos mais velhos iriam para o liceu. Os mais novos continuariam os seus estudos com a chegada das novas crianças… A intenção deste realizador foi revelar o mais autenticamente possível o que foi a vida do professor, como enfrentava as dificuldades que surgiam no dia a dia e como resolvia as disputas que surgiam entre as crianças. Retrata com esmero o modo como estabelecia a programação marcando os objectivos e prazos, como preparava as aulas tendo em conta as capacidades de cada aluno e o planeamento das actividades concretas que previa para as diferentes situações.
O professor tinha a noção clara de que não estaria ao lado destas crianças para sempre. Por isso, procurava criar e desenvolver a autonomia de cada um dos alunos, propondo-lhes trabalhos onde tinham de tomar decisões e revelar iniciativa. Estimulava-os também a irem ao quadro para vencerem o medo de serem gozados pelos colegas. E claro, conversava com cada um, ouvindo-os com tempo e com interesse, dando-lhes os conselhos que julgava apropriados.
No final o professor é entrevistado. São perguntas simples com respostas ainda mais simples, sobre a vida, a sua profissão, o ensino, pois o professor e os alunos são os próprios actores. Não há personagens, o que há são as próprias pessoas de carne e osso, mostrando uma humanidade que está no nosso poder construir. " ( Fonte: Educação na Aldeia )
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Ser e Ter ( Parte Final )
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